Tanto o casamento quanto a mudança para a China foram decisões puramente comerciais. Uma fusão entre duas famílias (empresas) com sinergias semelhantes, pois, em conjunto, renderiam mais lucros do que dois sobrenomes (entidades) separados. Os ramos da moda e do estilo pessoal tinham muito a ganhar com as Hoàng de Hanói se juntando aos Hu de Xangai, com a consultoria de imagem e estilo ligada diretamente aos clientes do setor têxtil de luxo, além da abertura da primeira filial da COLORIZE fora do solo vietnamita. O foco era, portanto, o lucro, enquanto o casamento de Liên Hoa era tratado como uma consequência; um presságio do seu futuro.Mas não que ela desse tanta importância à cerimônia também. Filha de uma guru da moda, divorciada e dona da própria empresa enquanto o início dos anos 2000 só sabia julgá-la, sua mãe sempre a ensinou que se permitir ser apenas uma esposa era o caminho para o fracasso, amarguras, e questionamentos com todos os “E se?” da vida. Palavras das quais ela, consultora assim como a própria mãe, formada nas mesmas universidades e com as mesmas especializações, fez tanto seu mantra quanto a própria Hoàng mais velha. Um tal mãe, tal filha esculpido em Carrara, tão fidedigno que a distinção entre as duas era quase inexistente, e Liên Hoa se orgulhava de viver para seguir os passos da mãe. Afinal, no futuro, seria ela a grande chefona da empresa erguida pelo esforço e orgulho da mãe.E por isso aceitar o casamento cômodo aos vinte e cinco anos foi algo quase natural. Apenas mais um dos contratos oficializados pela mãe, aquela que sempre gostou de honrar e orgulhar, pois era de onde vinha toda sua garra e inspiração para ser quem era. Uma mulher imponente, sem medo de levantar a voz numa sala cheia de acionistas, dando a palavra final sobre o rumo da empresa, sua filial em terras chinesas, e como tudo seria feito a partir dali.Nepo baby, sim. Pela mãe pioneira na colorimetria e consultorias com grandes nomes, pelo sogro fornecedor das grandes indústrias luxuosas, juntamente do mais novo marido que de pouco a servia (não por ser uma má pessoa, mas simplesmente porque não tinham muito interesse um no outro, ainda que a cerimônia de casamento tenha sido tão extravagante quanto o esperado das famílias). Mas, ao menos, era uma das privilegiadas que entendia bem tudo que fazia, já que Liên Hoa havia crescido como uma mini versão da mãe, tão atenta aos negócios da família enquanto as crianças da sua idade se preocupavam mais em brincar. Para ela, a diversão era permanecer no mundo da COLORIZE dia após dia, nas férias… em todos os momentos. Assim, assumir a diretoria em Xangai foi fácil; apenas mais um passo natural na sua história, na preparação para o futuro.A vida em Xangai se mostrou boa e a empresa, ainda melhor. Próspera, com um desempenho financeiro parelho ao da sua sede matriz, orgulhando tanto a mãe que a solidão da filha em outro país não parecia tão importante assim. Porque, enquanto Liên Hoa vivia pelo trabalho, a vida fora dele se mostrava ir de mal a pior. Os quatro anos de convívio sob o mesmo teto haviam criado um vínculo, sim, e talvez uma relação de carinho mútuo, mas amor… Amor nunca existiu. Ambos sabiam disso, quando cada comemoração de aniversário de casamento parecia menos importante que a anterior, e a distância emocional os desenhava mais como companheiros de casa do que de vida.Ainda assim, a ideia de separação não passava pela sua mente. Não era apenas uma esposa, não dependia do homem ao seu lado, então o medo da estagnação e de um futuro entrelaçado a ele era inexistente. Manter-se junta ao marido pelas aparências não a incomodava, assim como o pedido de noivado não a incomodou — faria tudo pelo bem da COLORIZE, pela fusão de empresas e famílias, e pela mãe. Aceitaria tudo… Menos os boatos envolvendo o nome do casal e, por falta de discrição do homem, uma amante. A mesma que Liên Hoa sabia da existência desde o segundo ano de casada e da qual não se importava, desde que a santidade do seu lar não fosse desrespeitada, porque o espaço ali era seu. Não dos dois, não do casal, mas seu. Por isso, ter a outra tomando o que lhe pertencia — sua privacidade, não o marido — foi o que deu fim ao acordo matrimonial.Não que Liên Hoa esteja, de fato, divorciada. Ela sabe que, mesmo sendo uma mulher de 29 anos responsável pela própria vida, a ideia de decepcionar a mãe a assusta. E muito! A mesma mulher que, décadas antes, se divorciou do marido pela infidelidade dele, que a ensinou a jamais depender de homem algum e a não permanecer em situações que ferem seu orgulho e caráter… Mas que colocou tantas expectativas no casamento da filha, porque a junção dos sobrenomes sempre foi o mais importante dali. Não sua vida, não seu futuro e uma possível construção de família, mas o lucro crescente dos últimos quatro anos e a filial xangaiense abrindo portas para mais da globalização do nome Hoàng no mundo da moda e estilo pessoal.Então, o casamento ainda existe nos papéis. E, caso seja obrigada a sair em público com o marido, planejar uma visita pontual à casa dos sogros ou alguma atualização sobre sua vida à mãe no Vietnã, ela está mais do que preparada para fingir que ainda vivem na mesma casa. Sim, sim, eles honram os votos de “para sempre” e planejam um futuro juntos. Talvez até pensem em filhos para um futuro beeeem distante, já que, agora, o único foco da sua vida é o profissional.O orgulho da mãe.